domingo, 17 de junho de 2012








O cenário da guerra em Paris na visão de Marcel Proust em Le Temps Retrouvé. 


CARPACIO·




Elsa Caravana Guelman

O narrador, numa tarde em que resolveu sair, ao atravessar a cidade após passar pelo Trocadero e olhar o céu preguiçoso e lindo, que se ia prolongando molemente, para evitar a chegada da noite, continuou suas observações, já bem distante do percurso inicial, quando sentiu a diferença do ambiente: “Voltei sobre meus passos, uma vez tendo deixado a ponte dos Invalidos, e já não havia mais dia no céu e não aparecia quase luzes na cidade; tropeçando aqui e ali nas latas de lixo, tomando um caminho por outro, eu me encontrei sem perceber, seguindo maquinalmente, num labirinto de ruas escuras, chegando aos bulevares. Ali, a impressão do Oriente que eu tivera se renovou, e por outro lado à evocação da Paris do Diretório sucedeu a da Paris de 1815. Como em 1815, havia um desfile sem harmonia dos uniformes das tropas aliadas; e, entre elas, africanos de saias-calças vermelhas e indianos com turbantes brancos eram suficientes para que, dessa Paris onde, agora, passeava, eu formasse toda uma imaginária cidade exótica, num Oriente, a um tempo minuciosamente exato no tocante aos costumes e à cor das fisionomias, arbitrariamente quimérico no que concernia ao cenário, como da cidade onde vivia, Carpaccio fez uma Jerusalém ou uma Constantinopla, ali reunindo uma multidão, cuja maravilhosa miscelânea não era mais colorida que essa. “
O narrador amava a Veneza de Carpaccio, que era “ toute encombrée d´Orient comme l´est le Paris de la guerre.”
( Obras de Carpaccio que Proust admirava: “Saint Georges et le dragon” et “Arrivée de Sainte Ursule à Cologne”, de la “Legende de Sainte Ursule”)



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