domingo, 17 de junho de 2012

MARCEL PROUST








O prazer de um espírito equilibrado


ELSA CARAVANA GUELMAN

E quanto ao prazer que dá a um espírito perfeitamente justo, a um coração verdadeiramente vivo, o belo pensamento de um mestre, é sem dúvida inteiramente salutar, mas, por mais preciosos que sejam os homens que o desfrutam verdadeiramente (quantos haverá em vinte anos?), ele os reduz a serem da mesma forma a plena consciência alheia. Se tal homem tudo faz para ser amado por uma mulher, que só lhe daria infelicidade, sem conseguir, apesar dos esforços redobrados durante anos, obter um encontro com esta mulher, em lugar de procurar exprimir os perigos e os sofrimentos de que escapou, lê sem cessar, misturando-lhe “um milhão de palavras” e as lembranças mais emocionantes de sua própria vida, este pensamento de La Bruyère: “Os homens com freqüência querem amar sem o conseguir, procuram seu fracasso sem o encontrar, e, se eu ouso assim falar, são compelidos a permanecerem livres” Que seja este sentido ou não que tenha tido esse pensamento para quem o escreveu (para que ele o tivesse e isto seria mais belo, seria necessário “ser amados” em vez de “amar”) , é certo que nele este letrado sensível o vivifica, enche-o de significação até fazê-lo estourar,só pode relê-lo, transbordando de alegria. De tanto que o acha verdadeiro e belo, mas apesar de tudo nada acrescentou e resta somente o pensamento de La Bruyère.


Le Temps Retrouvé, pag. 490


por ELSA CARAVANA GUELMAN                                        L´oeuvre d´art et le rêve
« Proust était fasciné par les rêves. Il raconte plusieurs rêves dans A la recherche du temps perdu, et il insiste sur le rôle de modèle que le rêve a joué pour lui dans la composition du roman. En effet, les analogies entre le fonctionnement du rêve et la composition dela Recherche sont frappantes. Proust observe dans le dernier volume de son roman que le rêve est le moyen privilegié pour retrouver le temps perdu, que le rêve abolit le tempschronologique et instaure un ordre qui, sur la base d´analogies thématiques, rapproche des évenements qui chronologiquement sont separés par d´énormes distances, que finalement le rêve nous met en contact direct avec des passions qui dans la vie de tous les jours se cachent sous les masques les plus variés. Pour Proust, le rêve était « sa seconde muse » (IV,490) ». Maarten van Buuren, Marcel Proust 



Le Bal de Têtes



 ELSA CARAVANA GUELMAN
"Le thème qui accompagne la destruction par le temps est celui du renversement de la hiérarchie sociale. La plus haute aristocratie est en déclin et descend rapidement la pente du prestige social. Les bourgeois, avides depuis longtemps de leur position, réussissent finalement à la chasser et à prendre leur place au so...mmet. Mme. Verdurin qui est l´incarnation la plus marquée de cette ambition bourgeoise, a épousé aprés la mort de son mari le prince de Guermantes, s´appelle maintenant princesse de Guermantes et ainsi est devenue la maîtresse de la maison où la matinée a lieu. Bien qu´elle vienne juste d´accéder à cette brillante position, la nouvelle princesse agit comme si elle avait toujours été princesse." Marcel Proust et l´imaginiaire. Maarten an Buuren



Art Médieval



ELSA CARAVANA GUELMAN
L´idée de l´art médiéval constitue l´identité nationale pour Marcel Proust. Elle est pleine d´essence populaire, aussi. Françoise est depositaire d´une tradition populaire. "Au dessus de la porte, les Saints, les rois-chevaliers une fleur de lys à la main, des scénes de noces et de funérailles, étaient représentés co.........mme ils pouvaient l´être dans l´âme de Frnçoise. Le sculpteur avait aussi narré certaines anecdotes relatives à Aristote et à Virgile de la même façon que Françoise à la cuisine parlait voluntiers de saint-Louis comme si elle l´avait personellement connu."




Tradition Médiévale


ELSA CARAVANA GUELMAN


Proust ajoute encore sur l´essence populaire l´idée suivante: "On sentait que les notions que l´artiste médiéval et la paysanne médiévale (survivant au XIXe siècle) avaient de l´histoire ancienne ou chrétiènne, et qui se distinguaient par autant d´inexactitude que de bonhomie, ils les tenaient non de livres, mais d´......une tradition à la fois antique et directe, ininterrompue orale, déformée, méconnnaissable et vivante."



Un amour de Swann


ELSA CARAVANA GUELMAN


"Dire que j´ai gâché des années de ma vie, que j´ai voulu mourir, que j´ai eu mon plus grand amour, pour une femme qui ne me plaisait pas, qui n´était pas mon genre!". O final do livro, " Un  amour de Swann", revela para alguns críticos uma grande influência de Tolstoi, com Ivan Ilitch. Acho que essa situação estaria com......preendida também nas "Intermitências do Coração" de Proust , revelando a contradição do amor possessivo sentido por Swann no início e no desenrolar da trama.


A Aranha. Presença e Função da Loucura.


ELSA CARAVANA GUELMAN



·Em "Proust e os Sígnos", Gilles Deleuze, comentanto a Recherche, afirma que o narrador não possui órgãos, sendo um enorme corpo sem órgãos. E pergunta: o que é um corpo sem órgãos? E acrescenta que: "Também a aranha nada vê, nada percebe, de nada se lembra. Acontece que em uma das extremidades de sua teia ela registra a mais leve vibração que se propaga até seu corpo em ondas de grande intensidade e que a faz, de um salto, atingir o lugar exato. Sem olhos, sem nariz, sem boca, a aranha responde unicamente aos signos e é atingida pelo menor signo que atravessa seu corpo como uma onda e a faz pular sobre a presa. A Recherche não foi construída como uma catedral nem como um vestido, mas como uma teia. O narrador-aranha, cuja teia é a Recherche que se faz, que se tece com cada fio movimentado por este ou aquele signo: a teia e a aranha, a teia e o corpo são uma mesma máquina. O narrador pode ser dotado de uma extrema sensibilidade, de uma prodigiosa memória: ele não possui órgãos no sentido em que é privado de todo uso voluntário e organizado de suas faculdades. Em contrapartida, uma faculdade se exerce nele quando é coagida e forçada a fazê-lo; e o órgão correspondente vem situar-se nele, mas como um esboço intensivo despertado pelas ondas que lhe provocam o uso involuntário. Sensibilidade involuntária, memória involuntária, pensamento involuntário são como que reações globais intensas do corpo sem órgãos a signos de diversas naturezas. Esse corpo-teia-aranha se agita para entreabrir ou fechar cada um das pequenas caixas que vêm deparar-se com um fio viscoso da Recherche. Esse corpo-aranha do narrador, o espião, o policial, o ciumento, o intérpetre e o reivindicador - o louco - o esquizofrênico universal vai estender um fio até Charlus, o paranóico, um outro até Albertina, a erotômana, para fazê-los marionetes de seu próprio delírio, potências intensivas de seu corpo sem órgãos, perfis de sua própria loucura."



A imagem de Proust


ELSA CARAVANA GUELMAN


" Cada manhã, ao acordarmos, em geral fracos e apenas semiconscientes, seguramos em nossas mãos apenas algumas franjas da tapeçaria da existência vivida, tal como o esquecimento a teceu para nós. Cada dia, com suas ações intencionais e, mais ainda, com suas reminiscências intencionais, desfaz os fios, os ornamentos do olvido. Por isso, no final Proust transformou seus dias em noites para dedicar todas as suas horas ao trabalho, sem ser perturbado, no quarto escuro, sob uma luz artificial, no afã de não deixar escapar nenhum dos arabescos entrelaçados."
Comentário de Walter Benjamin em "A imagem de Proust", editora brasiliense, Obras Escolhidas.



Le Temps Retrouvé (Matinée et Bal de Têtes)



ELSA CARAVANA GUELMAN

Marcel Proust gostaria que sua obra tivesse uma grande estrutura com um fim suntuoso e brilhante, alcançando um verdadeiro apogeu. Imaginou dar a sua obra o nome de "Adoração Perpétua". Esse título não estava imbuído de um sentimento litúrgico, católico, que compreende os mistérios da Eucaristia. Preocupava-o um sentido propriamente arquitetural, numa projeção metafórica de uma Catedral com todos os elementos e símbolos. E essa catedral seria eterna, perpétua, em constante adoração. Adoração perpétua ou Tempo reencontrado? Seriam sinônimos. Finalmente, admtiu que a última parte de sua obra, Le Temps Retrouvé,teria o título "Matinée chez la Princesse de Guermantes", compreendendo duas partes, em que a primeira seria "L´Adoration perpétuelle" (pags. 433/496) e a segunda seria "Le Bal de Têtes" (496/625). A primeira parte abordaria os vários aspetos da Arte, salientando os procedimentos que um verdadeiro escritor (artista) deveria adotar para compor sua obra. Da pag. 458 (o livro interior) à pag. 496 há digressões --- recurso literário usado para esclarecer ou criticar um assunto em questão ---que evidenciam sua participação de crítico literário. A segunda parte mostra como é cruel o envelhecimento, transformando as pessoas, seus velhos amigos, em mascarados, fantasmas. Todos estão espererando a morte.
(Le Temps Retrouvé, Gallimard, IV (pag. 275/625) Bibliothèque de la Pléiade


Correspondance de Marcel Proust à Louisa Mornand sur Trouville



por Elsa Caravana Guelman, sábado, 15 de Janeiro de 2011 às 12:39 ·
Je suis content de vous savoir à Trouville puisque cela me donne la joie d´imaginer une des personnes qui me plaisent le plus dans un des pays que j´aime le mieux. Cela concentre en une seule deux belles images. Je ne sais pas au juste où est votre villa Saint-Jean. Je suppose qu`elle est sur la hauteur entre trouvi...lle et Hennequeville, mais je ne sais si elle regarde la mer ou la vallée. Si elle regarde la mer, elle doit l´apercevoir entre les feuillages, ce qui est si doux et le soir vous devez avoir des vues du Havre admirables. On a dans ces chemins un parfum mêlé de feuillées, de lait et de sel marin qui me parait plus délicieux que les mélanges le plus raffinés... Si vous donnez sur la vallée, je vous envie des clairs de lune qui opalisent le fond de la vallée à faire croire que c´est un lac." Correspondance de Marcel Proust à Louise de Mornand..



O narrador diante de uma nova luz na visão de Marcel Proust.



por Elsa Caravana Guelman, quinta, 28 de Abril de 2011 às 10:51 ·
O narrador, continuando suas férteis digressões sobre a vivência literária de um escritor, enquanto aguardava a matinée na biblioteca do príncipe de Guermantes, entrevia que a obra de arte era o único meio de recuperar o tempo perdido, quando uma nova luz menos brilhante se apossou dele, fazendo-o compreender que todos os materiais da obra literária se cingiam a sua vida passada. Como tinham vindo a ele? Certamente, nos prazeres frívolos, na preguiça, na ternura, na dor, armazenados por ele sem que tivesse advinhado sua destinação, sua própria sobrevivência, como a semente que acumula todos os alimentos que hão de nutrir a planta. E, como a semente, ele poderia morrer quando a planta se desenvolvesse. Percebia, também, ter vivido para ela, sem que a vida lhe mostrasse como entrar em contato com os livros que desejara escrever e para os quais não achara assunto quando se sentara à mesa de trabalho Assim, desse modo, sua vida até esse dia --- o da nova luz que se projetara nele --- poderia e não poderia resumir-se num título: Uma vocação! Não o poderia porque a literatura não desempenhara nenhum papel importante em sua vida,até então, mas ao mesmo tempo poderia porque essa vida com a lembrança de suas tristezas e alegrias formava uma reserva semelhante ao albume do óvulo das plantas, no qual encontra alimento para se transformar em semente, numa época em que ainda se ignora como é desenvolvido o embrião de uma planta, por ser mantido, secretamente, somente por fenômenos químicos e respiratórios ativos, com sua vida relacionada ao que determinasse a sua maturação. Em vista disso, os que seriam nutridos por ela, ignorariam, como os que se alimentam de grãos nutritivos, que as ricas substâncias contidas em seu interior foram produzidas para alimentá-los, tendo antes nutrido a semente e permitido o seu amadurecimento. É realmente uma brilhante comparação para explicar a verdadeira formação de um escritor em suas etapas pelo intrincado mundo da arte.
“Le Temps Retrouvé”, Mattinée chez la Princesse de Germantes, Marcel Proust.






Considerações sobre a arte: O papel do escritor. Le Temps Retrouvé.


MARCEL PROUST


ELSA CARAVANA GUELMAN


O narrador, no fluxo de suas considerações sobre a arte, afiança que as comparações, que são feitas no corpo de uma criação literária, como, por exemplo, da semente que cria uma planta com a literatura que cria o escritor e a obra, podem ser falsas como pontos de partida, e verdadeiras como metas de chegada. Tudo vai depender do seu desenvolvimento. O literato sente inveja do pintor, gostaria de fazer esboços, tomar apontamentos, mas, na verdade, ele estaria perdido se assim o fizesse Mas, quando escreve, um gesto de seus personagens, um tique e um simples modo de falar são ditados à inspiração pela memória. A memória está intrinsecamente voltada à concepção de seu trabalho literário. Não há um só nome de personagem inventado sob o qual não possa colocar sessenta nomes de pessoas reais, nas quais uma pousou para os trejeitos, outra para o monóculo, esta para a cólera e aquela para o movimento do braço. Sob tal prisma, o escritor compreende que não poderia ser um pintor de modo consciente e voluntário, mas sem que ele tenha percebido acabou conseguindo seu caderno de esboços, como o de um pintor, sentindo-se, então, realizado.
Quando, movido apenas pelo instinto, nem imaginando que um dia se tornaria um escritor, ele não reparava em coisas que os outros notavam, sendo então acusado de distraído por esses e por si mesmo, pois não sabia ouvir e nem ver. É que, durante esse tempo, ordenava a seus olhos e ouvidos que guardassem para sempre tudo o que não interessava aos outros, ninharias pueris, como o tom com que fora dita uma certa frase, a expressão e o jeito de dar de ombros de uma pessoa em certa ocasião, de quem talvez não saiba nada, há anos e porque já ouvira esse tom ou sentia que ainda poderia ouvi-lo, que era algo de renovável, de durável. Procurava, sim, o senso do geral, cabendo, então, ao futuro escritor analisar o geral para fazer parte de uma obra de arte. Só se interessaria em escutar os outros quando, por mais néscios ou loucos que fossem considerados, repetindo como papagaios o que diziam as pessoas de feitio semelhante ao deles, se tornassem aves proféticas, porta-vozes de uma lei psicológica. Ele só se recorda do geral, no caso, o que é essencial. Graças a tais entonações de vozes, certos jogos faciais, tais movimentos de ombros, vistos embora na mais longínqua infância, grava-se nele a vida alheia, e quando, mais tarde, for escrever, tudo isso, que foi recolhido, irá ajudá-lo a recriar a realidade, seja na composição de um movimento de ombros comum a muita gente, exato como se tivesse sido anotado num caderno de um anatomista, mas aqui para exprimir uma verdade psicológica, podendo enxertar nos ombros de uma pessoa um movimento de pescoço tirado de outra pessoa, tendo em vista que cada modelo teve seu instante de pose registrado pelos olhos do escritor na sua memória.


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